
Era uma vez uma idéia de dois amigos: juntar todas as informações da web e apresentá-las de forma rápida e fácil para os usuários em busca de informações espalhadas (nessa época) em milhares de sites. O sucesso foi tanto que hoje nos questionamos se houve vida na internet antes do Google. Como todo esforço e, principalmente, boas idéias devem ser recompensados, logo veio um plano de negócio para a nova ferramenta: além dos resultados oferecidos pelo serviço gratuito, por que não aproveitar um pouco do espaço para vender publicidade? Outra idéia fantástica que se converteu em êxito e transformou os dois amigos não só em milionários, mas também em ícones de um novo panorama econômico.
Então vieram outros três (ou seriam quatro?) amigos que criaram um novo site de sucesso: o Youtube. A febre se espalhou rapidamente, ajudada pela popularização da banda larga e de equipamentos de produção de vídeo (câmeras digitais baratas, celulares, webcams…), contrinuindo para que cada vez mais pessoas se envolvessem com a idéia de compartilhamento de material audio-visual na rede. Segundo dados do Google, atualmente, a cada minuto, mais 13 horas de vídeos são adicionadas ao site.
Os amigos do Google – já profissionais nesse momento – aproveitaram a idéia dos novos amigos e compraram o Youtube em outubro de 2006, pelo qual desembolsaram US$ 1,6 bilhão. Mas os grandes números param por ai. Desde a aquisição, o Google não conseguiu implementar um plano de negócio que justificasse o valor da compra e trouxesse lucros à empresa. Pelo menos não até hoje.
Seguindo a velha tática do “não perca tempo reinventando a roda” a companhia decidiu fazer negócio com o que mais entende: resultado de buscas. Sim, depois de algumas tentativas frustadas por rejeições de usuários, o Google acaba de anunciar os anúncios de vídeos do Youtube.
A novidade (ou não) que o diferencia das outras experiências é que essa não interfere nas atividades do usuário. Ele não precisará esperar um anúncio antes de ver o vídeo que deseja e nem verá sua tela tomada por anúncios de texto. A dinâmica é praticamente a mesma dos resultados da página central do Google: de um lado os resultados naturais, do outro os pagos.
Explicando melhor: ao procurar um determinado termo, o Youtube continuará apresentando os vídeos adicionados por usuários que são relevantes à procura, mas além deles também mostrará vídeos feitos por anunciantes e pagos por cliques.
A idéia parece boa, pois segue a mesma lógica do AdWords: o anúncio é mostrado para um público que já está procurando um determinado produto e, portanto, as chances de “convencê-lo” são maiores. Nada mais natural que fazer isso no mesmo formato de mídia que o internnauta está buscando.
Mas ainda não vejo um sucesso tão próximo. Isso por duas razões básicas. Primeiro, quando estou procurando algo e aparece um anúncio do AdWords ao lado com a palavra-chave, provavelmente eu me sentirei atraída e vou ler o anúncio inteiro, ou seja, a mensagem será passada por completo na maioria dos casos. Tería que ser um anúncio muito ruim para me fazer desistir na metade de três linhas. Já no vídeo será mais difícil chamar a atenção. Acho que os anunciantes terão que ser muito criativos em criar imagens de início instigantes e ainda prender o usuário até o fim da mensagem.
O segundo problema é um clássico de quase tudo o que é novo na internet: tecnologia. Pelo menos no Brasil ainda não é a maioria que tem acesso à banda larga de qualidade e isso piora bastante a experiência do usuário. Dou o exemplo da minha casa. Eu moro no Espírito Santo, onde a maior velocidade para internet residencial é de 1Mb. Tenho essa velocidade e cada vez que quero ver um vídeo no Youtube tenho que esperar alguns segundos (muitas vezes minutos) para carregar e vê-lo por completo. Sinceramente não sei se me daria o trabalho de fazê-lo para ver anúncios.
As campanhas mais bem sucedidas até hoje na internet foram virais. Uma pessoa achou legal e recomendou a um amigo, que recomendou a outros… e assim vimos desconhecidos, histórias inusitadas e muito mentos com coco-cola se espalharem pela web como um vírus mesmo. Acho que continuará assim, mas lógico, os anúncios do Youtube serão muito mais direcionados a um público alvo específico, que uma vez atingido, estará mais propenso a consumir.
Para os anunciantes o procedimento é bem parecido ao do AdWords: escolha das palavras-chave, público alvo, CPC, orçamento diário, anúncio… Só que na hora de escolher o target… está disponível somente para os Estados Unidos por enquanto. Teremos que esperar para ver como o público brasileiro receberá a novidade e saber se o Youtube, finalmente, dará algum retorno ao Google.
Fico na torcida, pois como freqüentadora assídua do Youtube, quero que o serviço continue sendo oferecido com a qualidade (ou até melhor) que tem hoje e entendo que isso tem um custo muito alto. Mas ainda não consegui visualizar uma forma de recompensa para os produtores de conteúdo, pois a maior parte do sucesso do site se deve aos milhares de anônimos que criam vídeos vistos por milhões de pessoas no mundo inteiro e ainda não receberam um centavo por isso.